sexta-feira, 30 de maio de 2008

Relato de um torcedor


Certo dia, conheci um garoto diferente. Tinha 16 anos, usava roupas de hip hop e tinha uma grande paixão: a torcida organizada de seu time.
O conheci numa praia, por isso, ele não usava as roupas de hip hop. Sentei do seu lado, não me importei em puxar assunto. Nem imaginava a tremenda história que poderia ouvir.
Às vezes fico pensando nisso quando passo pelas pessoas na rua. Tantos rostos diferentes, tantas histórias que eu talvez nunca conheça. Algumas tristes, alegres e principalmente muito interessantes. É estranho morar numa cidade onde ninguém conhece ninguém, nem o vizinho. Mas a gente acaba acostumando.
Eu me acostumei, tanto que não conversei com o garoto. Mas um amigo meu, talvez mais esperto, ficou amigo dele. E o garoto voltou conosco no ônibus. Foi quando pude ouvir sua fantástica história.
Ele participava da Cearamor, uma torcida organizada daqui de Fortaleza. Dizia que as pessoas sempre olhavam para ele com certa repugnância. Mas contava os minutos pra o dia da partida de futebol.
Nunca entendi como alguém podia amar tanto uma coisa inconcreta. Seu amor pelo time era muito bonito. Que sorte seria a da namorada, se por ela, sentisse tamanho amor.
Mas sua paixão também tinha um lado negro. Este era o mais conhecido pelas pessoas, inclusive eu. Sempre achei que as torcidas organizadas eram formadas por um bando de idiotas sedentos de briga e sangue.
Como toda paixão, tinha seu lado doentio, era capaz de brigar pelo seu time. E como todo apaixonado, não enxergava as conseqüências de suas loucuras.
Tamanha loucura o fez torna-se o tocador oficial da torcida. Tão louco que ia para as brigas e fugia da polícia carregando o tambor no seu pescoço. Perguntei se não era muito pesado. Mas para ele, todo amor convertia-se em adrenalina, não sentia seu corpo, não sentia o peso, só a emoção de estar no estádio.
Era somente adrenalina nos primeiros jogos. Até o dia que algum dos membros ofereceu-lhe cocaína. Tão cego de si, aceitou. E assim, a cocaína passou a ser usada em todos os jogos. Pouco tempo depois, a cocaína estava consumindo-lhe, mais que a paixão pelo time.
O vício foi aumentando, chegou a tal ponto que roubava coisas de sua casa para comprar a droga. Sua família sofria muito. E no dia em ele que foi preso, sua mãe chorando, o entregou para uma casa de reabilitação.
Até o dia da nossa conversa faziam-se seis meses sem a droga. E sem os jogos. A paixão pelo time o consumiu como a droga. Assim como a droga, teve que largá-la para sobreviver normalmente.
Hoje ele torce, vibra e se emociona assistindo os jogos pela televisão.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Pensando em diferença


Os “diferentes” são todos iguais! Essa foi a conclusão que tive num daquelas horas que você vai para a janela e fica pensando em tudo.Observando como um passarinho assustado aquele caos da cidade.Costumo fazer isso de vez em quando.E me ponho horas a observar: os carros, a fumaça, a correria urbana e as pessoas.Elas são o que mais gosto.Pessoas diferente, comportamentos diferentes, mas aparentemente parecem todos iguais, naquele estranho modo de viver na correria.Como já dizia a música do The Doors “pessoas são estranhas quando você é estranho,os rostos são feios quando você está só”.

Penso que, na verdade, não são as pessoas estranhas. Talvez seja o mundo que é estranho. Aquela vida de trabalho, correndo contra o tempo, sempre. Esse mundo estranho deixa a sociedade estranha. Todo mundo ouvindo a mesma música sem letra nem arte. Todos com o mesmo cabelo, com as mesmas roupas, as mesmas atitudes. E acaba que o ser estiloso, ser maneiro, vira ser igual!
Todos ficam cegos para algo novo, cegos que vêem, cegos que vendo, não vêem. E na ânsia pelo ser diferente acabam refugiando-se em grupos onde todos são iguais. E no lugar de termos pessoas diferentes, personalidades diferentes. Temos grupos diferentes, que entre seus membros todos são iguais.
E as pessoas que eu julgo serem normais, as que não aderem a esses grupos conservando suma personalidade, acabam sendo diferentes. Algo como normal é ser diferente. Ser diferente é normal.
A cada dia, a cada pensamento, sempre acabo concluindo que estamos vivendo num mundo louco de gente louca. E quem ainda não enlouqueceu está enlouquecendo.
E assim nessa loucura sem fim tento viver do meu jeito, com um pouco mais de sensibilidade e personalidade. Vou tentando nessa busca incessante pela a normalidade diferente. Mas confesso, estou a cada dia mais longe.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

A filha do ministro (final)


A música parou. Clara estava com os olhos marejados. Olhos pequenos e brilhantes que transmitiam à Pedro toda a emoção do momento. Ele por sua vez, encontrava-se numa felicidade inefável por ter encontrado aquela garota desconhecida que habitava seus sonhos todas as noites. Ela parecia uma princesa, uma linda princesa esperando pelo príncipe. Seria Pedro o tal príncipe? Estava mais para sapo na verdade. O silêncio do momento era tão encantador que ninguém se deu falta da música.
A música voltou e a festa continuou a correr normalmente. Olhares entre Pedro e Clara aconteciam de uma maneira tímida e constante.
No fim da festa eles se encontraram no carro da banda. Ficaram parados se olhando por um instante, mas logo, Clara pôs-se a explicar:
_Oi, me disseram que você estava aqui. Também me disseram seu nome, Pedro não é? Então, queria te dizer que adorei a música e que me lembro de você...
Ele interrompeu:
_Não precisa falar, apenas vem comigo, quero te mostrar uma coisa.
E juntos foram a um prédio perto do clube. Era lá que Pedro morava. Subiram até a cobertura, a paisagem era linda. Composta pelas luzes. Um mix de brilhos ofuscantes.
_Sempre quis trazer alguém aqui. É o meu lugar preferido e quero dividi-lo com você. Eu não sei o que fez comigo, mas sinto que desde do dia em que te vi é como se eu estivesse vendado e você tirasse minha venda!
Clara completou:
_É como se a parti daquele dia você estivesse saído de uma sala escura? Percebe coisas que antes nem imaginava à sua volta? Algo como tal valor das coisas simples. De vez em quando se pega pensando nisso aí, nesse caos urbano cotidiano?
_Sim! Mas como você sabe tudo isso?
_Porque comigo aconteceu a mesma coisa. Acredita que hoje é a primeira vez que saio sozinha? Sem seguranças me perseguindo. Quando não são eles é meu pai, parecem sombras! Sou sedenta de liberdade. Minha vida vinha numa inércia sem fim. E eu ficava simplesmente assistindo, não conseguia tomar atitudes. Atitudes estas que fossem capazes de impedir isso.
Neste momento arrancou a coroa de debutante que tinha na cabeça.
_Como assim impedir? O que há de mal com sua coroa?-
_Eu não sou do tipo de garota que debuta! Fiz isso por causa do meu pai. Que me trata como se eu fosse mais um de seus comerciais políticos dele. Assim perco minha identidade. As pessoas me olham não como Clara, mas como a filha do ministro. Inutilmente já tentei me afirmar como ser pensante, mas se essas pessoas conhecessem meus pensamentos, minha verdadeira face, nua e crua; talvez não houvesse ninguém na festa hoje. Pessoas me vêem como objeto distante da realidade. Acho que devo meter medo em alguns.
_Olha, para quem não se afirmava como ser pensante, você acabou de criar um pensamento muito bem. Clara você é incrível! E não foi somente sua beleza que me fez parar hipnotizado. Talvez, no fundo eu sabia que você era assim.
_Assim como?
_Como uma maçã. Já ouviu aquela frase que diz que mulheres são como maçãs?
_Já!
_Pois então. Você é uma maçã das que ficam no alto da copa. E os comuns te fazem acreditar que você também é comum. Talvez por medo de sua grandeza. Sabe como te vejo? Como um criptograma. Para os normais é algo amedrontador, complicado, que é mais fácil ignorar do que conhecer. Mas para os que pensam um pouco mais e tentam decifrar, é intrigante, desafiador. Quando se consegue decifrar torna-se algo muito interessante.
_UAU! E que tipo de visão você tem do criptograma?
_Na verdade, eu não sei. Antes talvez eu fosse comum. E me amedrontasse. Mas depois daquele dia, acho que estou conseguindo te decifrar. E cada dia que passa me encanta mais. Até inspirado fiquei. Acho que você me afirmou como ser pensante. Quer saber? Eu não sei! Só sei que você é o criptograma mais lindo que já vi.
Ela sorriu e ele a beijou.
Tempos depois começaram a namorar, se afirmaram com ser pensante um para o outro. Com pensamentos particulares. Os dois mudaram bastante. E ninguém sabia a razão deles terem conseguido se ajudarem só com um olhar.
Mas quem irá dizer que há razão nas coisas feitas pelo coração?

Créditos à Dalila Sousa ;)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Dilma Roussef X Agripino Cunha

É eu falei que ia postar o resto da história, mas ontem assistir o Jô Soares e vi esse vídeo da ministra Dilma Roussef dando uma na testa do senador Agripino:


kkkkkkkk Isso que eu chamo de cutucar onça com vara curta!Valeu Dilma, subiu no meu conceito, mas ainda não ganhou meu voto! ;)
Agora entendo por que meu pai adora ficar assistindo CPI
Olha a carinha dele *.* kkkkkkkkkkkk Tomou no cu Agripino! =x

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A filha do ministro (parte II)



Aquele encontro de olhares ficou na cabeça dele. Até o dia em que sua banda foi contratada para tocar no aniversário de Clara, a filha do ministro.
A festa seria no sábado, mas a semana foi passando e a garota não saía de sua memória de modo algum. Decidiu então, que iria fazer uma música para ela e usá-la na apresentação.
Chegou o dia, a festa já tinha começado e faltavam poucos minutos pra banda entrar no palco. Pedro estava muito nervoso, o que não era comum nas apresentações, sentia um frio na barriga e tinha um pressentimento de que alguma coisa especial aconteceria naquela noite de lua cheia.
Entraram no palco cantando a nova música e ao olhar para o público percebeu que na primeira fila estava a menina do Planalto. Ele ficou mais nervoso ainda, seu coração bateu tão forte que parecia estar na garganta. Percebeu então, que Clara era a garota do Planalto. Resolveu parar a música, que ainda estava na introdução. Seus amigos da banda e o público não entenderam o que havia acontecido. De súbito, Pedro pôs-se a explicar no microfone:
_Boa noite. É a gente decidiu fazer o seguinte, ham... A gente vai tocar uma música nova que fiz essa semana. Essa música, hum... É especialmente pra você, Clara.
Vamos 1, 2, 3 vai:

 Eu piro quando você passa
La la ia la ia
 Teu olhar seduz, coração dispara
Já faz mais de uma semana que sonho contigo toda madrugada
Se tivesse o mundo, meu bem pra você eu dava
Mas só tenho amor, nem casa, comida nem roupa lavada
 Quando ouvir essa canção, canto ela pra você
Que é teu meu coração e já cansei de te esconder
Quando ouvir essa canção, canto ela pra você
Canção que eu fiz só pra te dizer...
 Eu piro quando você passa
La la ia la ia