Certo dia, conheci um garoto diferente. Tinha 16 anos, usava roupas de hip hop e tinha uma grande paixão: a torcida organizada de seu time.
O conheci numa praia, por isso, ele não usava as roupas de hip hop. Sentei do seu lado, não me importei em puxar assunto. Nem imaginava a tremenda história que poderia ouvir.
Às vezes fico pensando nisso quando passo pelas pessoas na rua. Tantos rostos diferentes, tantas histórias que eu talvez nunca conheça. Algumas tristes, alegres e principalmente muito interessantes. É estranho morar numa cidade onde ninguém conhece ninguém, nem o vizinho. Mas a gente acaba acostumando.
Eu me acostumei, tanto que não conversei com o garoto. Mas um amigo meu, talvez mais esperto, ficou amigo dele. E o garoto voltou conosco no ônibus. Foi quando pude ouvir sua fantástica história.
Ele participava da Cearamor, uma torcida organizada daqui de Fortaleza. Dizia que as pessoas sempre olhavam para ele com certa repugnância. Mas contava os minutos pra o dia da partida de futebol.
Nunca entendi como alguém podia amar tanto uma coisa inconcreta. Seu amor pelo time era muito bonito. Que sorte seria a da namorada, se por ela, sentisse tamanho amor.
Mas sua paixão também tinha um lado negro. Este era o mais conhecido pelas pessoas, inclusive eu. Sempre achei que as torcidas organizadas eram formadas por um bando de idiotas sedentos de briga e sangue.
Como toda paixão, tinha seu lado doentio, era capaz de brigar pelo seu time. E como todo apaixonado, não enxergava as conseqüências de suas loucuras.
Tamanha loucura o fez torna-se o tocador oficial da torcida. Tão louco que ia para as brigas e fugia da polícia carregando o tambor no seu pescoço. Perguntei se não era muito pesado. Mas para ele, todo amor convertia-se em adrenalina, não sentia seu corpo, não sentia o peso, só a emoção de estar no estádio.
Era somente adrenalina nos primeiros jogos. Até o dia que algum dos membros ofereceu-lhe cocaína. Tão cego de si, aceitou. E assim, a cocaína passou a ser usada em todos os jogos. Pouco tempo depois, a cocaína estava consumindo-lhe, mais que a paixão pelo time.
O vício foi aumentando, chegou a tal ponto que roubava coisas de sua casa para comprar a droga. Sua família sofria muito. E no dia em ele que foi preso, sua mãe chorando, o entregou para uma casa de reabilitação.
Até o dia da nossa conversa faziam-se seis meses sem a droga. E sem os jogos. A paixão pelo time o consumiu como a droga. Assim como a droga, teve que largá-la para sobreviver normalmente.
Hoje ele torce, vibra e se emociona assistindo os jogos pela televisão.
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Relato de um torcedor
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