sexta-feira, 16 de maio de 2008

A filha do ministro (final)


A música parou. Clara estava com os olhos marejados. Olhos pequenos e brilhantes que transmitiam à Pedro toda a emoção do momento. Ele por sua vez, encontrava-se numa felicidade inefável por ter encontrado aquela garota desconhecida que habitava seus sonhos todas as noites. Ela parecia uma princesa, uma linda princesa esperando pelo príncipe. Seria Pedro o tal príncipe? Estava mais para sapo na verdade. O silêncio do momento era tão encantador que ninguém se deu falta da música.
A música voltou e a festa continuou a correr normalmente. Olhares entre Pedro e Clara aconteciam de uma maneira tímida e constante.
No fim da festa eles se encontraram no carro da banda. Ficaram parados se olhando por um instante, mas logo, Clara pôs-se a explicar:
_Oi, me disseram que você estava aqui. Também me disseram seu nome, Pedro não é? Então, queria te dizer que adorei a música e que me lembro de você...
Ele interrompeu:
_Não precisa falar, apenas vem comigo, quero te mostrar uma coisa.
E juntos foram a um prédio perto do clube. Era lá que Pedro morava. Subiram até a cobertura, a paisagem era linda. Composta pelas luzes. Um mix de brilhos ofuscantes.
_Sempre quis trazer alguém aqui. É o meu lugar preferido e quero dividi-lo com você. Eu não sei o que fez comigo, mas sinto que desde do dia em que te vi é como se eu estivesse vendado e você tirasse minha venda!
Clara completou:
_É como se a parti daquele dia você estivesse saído de uma sala escura? Percebe coisas que antes nem imaginava à sua volta? Algo como tal valor das coisas simples. De vez em quando se pega pensando nisso aí, nesse caos urbano cotidiano?
_Sim! Mas como você sabe tudo isso?
_Porque comigo aconteceu a mesma coisa. Acredita que hoje é a primeira vez que saio sozinha? Sem seguranças me perseguindo. Quando não são eles é meu pai, parecem sombras! Sou sedenta de liberdade. Minha vida vinha numa inércia sem fim. E eu ficava simplesmente assistindo, não conseguia tomar atitudes. Atitudes estas que fossem capazes de impedir isso.
Neste momento arrancou a coroa de debutante que tinha na cabeça.
_Como assim impedir? O que há de mal com sua coroa?-
_Eu não sou do tipo de garota que debuta! Fiz isso por causa do meu pai. Que me trata como se eu fosse mais um de seus comerciais políticos dele. Assim perco minha identidade. As pessoas me olham não como Clara, mas como a filha do ministro. Inutilmente já tentei me afirmar como ser pensante, mas se essas pessoas conhecessem meus pensamentos, minha verdadeira face, nua e crua; talvez não houvesse ninguém na festa hoje. Pessoas me vêem como objeto distante da realidade. Acho que devo meter medo em alguns.
_Olha, para quem não se afirmava como ser pensante, você acabou de criar um pensamento muito bem. Clara você é incrível! E não foi somente sua beleza que me fez parar hipnotizado. Talvez, no fundo eu sabia que você era assim.
_Assim como?
_Como uma maçã. Já ouviu aquela frase que diz que mulheres são como maçãs?
_Já!
_Pois então. Você é uma maçã das que ficam no alto da copa. E os comuns te fazem acreditar que você também é comum. Talvez por medo de sua grandeza. Sabe como te vejo? Como um criptograma. Para os normais é algo amedrontador, complicado, que é mais fácil ignorar do que conhecer. Mas para os que pensam um pouco mais e tentam decifrar, é intrigante, desafiador. Quando se consegue decifrar torna-se algo muito interessante.
_UAU! E que tipo de visão você tem do criptograma?
_Na verdade, eu não sei. Antes talvez eu fosse comum. E me amedrontasse. Mas depois daquele dia, acho que estou conseguindo te decifrar. E cada dia que passa me encanta mais. Até inspirado fiquei. Acho que você me afirmou como ser pensante. Quer saber? Eu não sei! Só sei que você é o criptograma mais lindo que já vi.
Ela sorriu e ele a beijou.
Tempos depois começaram a namorar, se afirmaram com ser pensante um para o outro. Com pensamentos particulares. Os dois mudaram bastante. E ninguém sabia a razão deles terem conseguido se ajudarem só com um olhar.
Mas quem irá dizer que há razão nas coisas feitas pelo coração?

Créditos à Dalila Sousa ;)

Um comentário:

María Laó disse...

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